14
Abr 06
Foi numa noite como tantas outras, que tudo aconteceu…
 
     Eram cerca das duas da manha, lá estava o Pedro a conduzir o seu carro, rompendo aquela escuridão, a estrada mal se via, e não fosse estar tão atento, tinha passado por cima de um corpo estático que se encontrava no meio da estrada.
     Teve de fazer uma enorme travagem, por momentos temeu que não conseguisse, mas parou a cerca de dois palmos daquele corpo.
     Era uma jovem, aparentava ser jovem, de cabelos longos negros, olhos claros, com uma corrente na mão direita e de batina branca, estava no meio da via, apenas iluminada pelas luzes do seu carro, hesitou em sair do automóvel, ouvem-se tantas histórias por aí, assaltos, mortes, tanta coisa que os mitos urbanos nos fazem chegar às caixas de e-mail.
     Sinceramente a miúda parecia-lhe inofensiva, tinha certamente mais cara de anjo do que de demónio. Saiu do carro devagar, e tocou naquele vulto estático que se encontrava na frente do seu carro.
 
     - Estás bem? Se viesse mais distraído tinha-te passado por cima
 
     Teoricamente seria de esperar uma resposta, mas daquela boca nenhuma palavra saiu, nem palavra, nem gesto, nem nada que se parecesse.
     Abanou-a um pouco, tentando perceber se tinha pulsação, mas…
 
     - Mas olha lá….estiveste dentro de água ou assim? Estás fria…
 
Se não fosse tão céptico diria que ela estava morta, mas a sua formação em medicina levava-o a crer sempre em explicações lógicas e onde a ciência explicaria tudo.
 
     - Deves estar em hipotermia ou em choque, a pulsação deve estar tão baixa que não a consigo sentir, e por isso é que não me respondes, teoricamente nem me deves estar nem a ouvir.
 
     Agarrou-lhe no braço e meteu-a dentro do carro, negligencia do jovem certamente, deveria ter telefonado para o 112, mas por que raio iria ele chamar um médico, se ele era médico.
     Sentou-a no banco do pendura e tapou-a com uns cobertores que trazia no porta-bagagem, e continuou caminho até casa…o clima estava tenso e Pedro tentou interagir…
 
     - Estás a sentir-te melhor? Mais quentinha de certeza, hã? Vou levar-te para minha casa, tenho lá o material necessário para perceber o que se passou contigo. Que me dizes? E que tal começares pelo teu nome?
     Eu sou o Dr. Pedro Morais, sou médico de clínica geral, espero que entendas que estás em boas mãos.
 
     Sinceramente Pedro começava a ficar assustado, estava a começar a ficar macabra a situação, coisa de bruxas ou algo do género. A noite continuava cerrada, e aquele silêncio estava a deixa-lo doido. Não conseguia tirar os olhos do espelho retrovisor, que estava apontado àquela carinha de anjo.
     Resolveu numa tentativa de “descongelar” a situação ligar o rádio, mas por incrível que pareça, não conseguia sintonizar nenhuma estação, ruídos e mais ruídos parecia que estava no fim do mundo.
     Quilómetros à frente acabou por chegar a sua casa, encostou o carro e encaminhou a jovem de poucas palavras para o seu gabinete, o telefone da sala tinha começado a tocar, deixou a porta entreaberta e foi atender.
 
     - Tou? Quem fala?
     - Pedro? Sou eu pá, o César..
     - Ah sim, tou-te a ouvir mal meu amigo, então como é que isso vai?
     - Nada famoso, aliás, tenho uma péssima notícia…
     - Ui, então, o que é que se passa? Acabas-te com a tal Madalena…mas vocês só andam à 3 dias. Nem me deste tempo de a conhecer…
     - A Madalena morreu…
     - O quê? Como assim, mas morreu como?
     - Sinceramente nem te sei explicar bem, ainda nem acredito, esta noite eu fiz uma estupidez, era para ser uma brincadeira…
     - Ó César…tu mataste-a?
     - Fodax Pedro eu gostava dela, não foi isso, eu hoje à tarde fui a uma sessão espírita na casa de uma amiga da minha irmã, era importante eu assistir a uma coisa dessas para acabar a minha tese para a tal reportagem dos espíritos. E a certa altura eu perguntei à coordenadora daquela coisa para invocar algo, um espírito ou assim, e a vidente invocou o espírito da Sara…(fica um silencio pesado entre os dois)
     - Mas espera lá, tu acreditas mesmo nessa merda? Obvio que ela te inventou isso.
     - Era ela Pedro, disse-me que eu era culpado da morte dela, nunca deveria ter publicado a história que ela me tinha contado, e que a minha culpa ia agora virar o meu pior pesadelo, disse que iria perder todos os que me rodeavam...
     - Por amor de Deus César, tu nem pareces um jornalista porra, toda a gente sabe como são esses caloteiros dos videntes, mas ainda não entendi o que é que a tal Madalena tem a ver com isso…
     - Pois, poucas horas depois ligavam-me da polícia, a Madalena tinha sido encontrada nessa estrada que faz a ligação do Itinerário secundário, até ao Eixo Norte-Sul.
     - Mas o quê? Esta estrada aqui, a caminho da minha casa? Foi o quê acidente?
     - Sim essa mesmo que vai aí ter, épa…não foi bem acidente, o carro estava intacto, fechado e com as chaves no assento do condutor, havia um circuito de sangue que vinha desde a frente do carro até ao que seria o corpo da Madalena.
     - O que seria? O que queres dizer com isso?
     - Não havia corpo, apenas terra dentro de uma camisa de noite branca, mas o sangue, era o da Madalena.
     - Camisa de noite branca? (interroga o Pedro)
     - Sim, uma camisa branca, e tinha também um medalhão no chão…
     - Desculpa lá César, mas…descreve-me lá fisicamente a Madalena, como é que ela era, cor de cabelo, essas coisas…
     - Era linda Pedro, linda, cabelos negros longos, com uns olhos claros, perfeita, tinha uma cara de anjo que nunca vou esquecer…
     - César… (gaguejou o jovem doutor…)
     - Que foi, o que é que se passa?
     - Eu acabei de dar boleia a uma miúda com essa descrição física, que encontrei especada na estrada…
     - Pedro, tu não saias daí, daqui a 10     minutos estou em tua casa, tu fecha-te na sala e deixa-te estar quieto, eu vou. Aí buscar-te, deixa-te estar quieto, pelo menos desta vez tu faz o que eu te digo… (e desliga o telefone)
    
 
     Pedro poisa o telefone, alucinado com toda esta história desce a escada e volta ao seu escritório, a porta estava agora fechada, com cuidado Pedro abre a porta… um ranger estranho faz arrepiar a sua pele e um apagar de luz faz estremecer o seu corpo…
 
 
     César apressa-se, pega no carro e acelera pelo meio da noite cerrada, estava nervosíssimo, e incrivelmente assustado, a cerca de 5 quilómetros da casa de Pedro as luzes do carro reflectem um corpo no meio da estrada, foi sem querer que César conseguiu vislumbrar o corpo, estava a tentar ligar para a policia quando olhou para a estrada e….travou a fundo.
 
     O jovem jornalista não conseguia ver muito bem quem era, mas resolveu ir ver o que se passava, saiu do carro, deu três passos em frente e viu….o seu amigo Pedro com uma batina branca e com um medalhão na mão…
     Sentiu um entorpecer no corpo, um enorme calafrio e caiu inanimado no chão.
 
publicado por JF às 20:43

noite serrada = erro de português
o correcto é noite cerrada! sr. professor!
eu a 4 de Junho de 2006 às 12:49

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