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Jan 07
Existirá sempre uma questão essencial no meio disto tudo, porque razão as pessoas deixam de cuidar das coisas? Do seu corpo, das suas relações, com o passar dos anos, a frieza que a maioria das ligações toma é quase tão certa como as varizes nas pernas das mulheres, ou a barriga arredondada e proeminente que os homens adquirem.
Será então desta forma o tempo o culpado, ou acusamos a imperfeição humana que não sabe tirar prazer às coisas que acontecem mais do que uma vez, ou constantemente na nossa vida. Ás vezes apetece-me acordar esta gente com um grito, ou com uma bomba de gás pimenta, sim eu sei, vão arder os olhos, vão surgir lágrimas, mas depois o fumo vai sumir-se e aí vão ver…as pessoas que se preocupam certamente vão estar do seu lado, a rogar para que nada de mal lhe tenha acontecido, para que o mal não permaneça, dizendo com uma voz calma e melodiosa, “já passou, vai ficar tudo bem”.
É ao olhar estes personagens na noite que me perco em pensamentos, e que perco o meu tempo, e o tempo dos que comigo hoje vêem pelos meus olhos, sentem nas minhas palavras, as interrogações que transporto.
Desconcentro-me por segundos dos meus álibis preferidos para me fixar na menina do bar, e na sua silhueta movediça, há muito tempo que não era provocado à distancia com tanta facilidade, sinto-me um ratinho embalado pelo cheiro a queijo, e pelos trilhos vou salivando e imaginado tudo aquilo que vou fazer quando chegar ao meu prémio, mas como todos os encantamentos algo irá certamente acontecer, alguém vai gritar no meu ouvido…”Oi miúdo, estás a dormir ou quê? O bar está a fechar, vai lá para fora se quiseres”.
Resta-me a condição de saber que se voltar noutro dia, tenho grandes hipóteses de a ter a servir-me novamente, enchendo-me os copos onde afogo os sentidos, encantando-me os olhos até ficarem perdidos. Enquanto caminho pela areia vejo os casais adolescentes que se aninham nas areias da praia, a forma como fazem as juras, como não têm medo de sentir as coisas, como acreditam que tudo dura para sempre, a ingenuidade é um dom, que a idade tira.
Nunca soubemos estar sozinhos, caminhamos mais tristes quando estamos sós, são poucos os que tendem a ser loucos e escolhem a solidão como uma forma de ocupar o vazio. Desde cedo, ficamos presos a alguém, já nascemos presos a alguém, seja por um mero cordão ou um abraço, os sentimentos provocados pelos outros em nós são sempre mais fortes, mais duradouros, mais marcantes.
Decido então aninhar-me também eu nas areias, com o meu grupo de amigos, a noite é quase tão perfeita como aqueles dias em que acordamos com a luz do sol a tocar no nosso rosto contemplando o novo dia, ou mesmo os dias frios de Inverno, em que chove lá fora, e que nos enroscamos nos cobertores com tanta força que ninguém no mundo nos tiraria dali.
“Vamos ser para sempre amigos não vamos?” deixa escapar a mais frágil das meninas, encantada com o momento, e fazendo já balanços duma noite que está longe do fim. Esta frase fez com que me perdesse no meu cosmo, e levantou mais uma interrogação intrínseca, de que forma é que as amizades duram para sempre? É uma velha questão do tempo e do espaço, tantas vezes me senti bem com um grupo de pessoas, tantas vezes tive vontade de dizer que as amo, tantas vezes tive a certeza que…”podia ser muito feliz convosco”, mas depois por uma ou outra razão me separei…deixei correr o tempo, deixei escorrer a vida.
publicado por JF às 03:48

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